A Casa de Saúde do Telhal é o Centro Assistencial mais antigo da Província Portuguesa da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus e, naturalmente, do Instituto S. João de Deus.
A Ordem Hospitaleira, espalhada pelo mundo, sofreu um forte abalo, aquando das convulsões políticas do Séc. XIX, tendo mesmo chegado a ser extinta na Península Ibérica.
Foi restaurada poucas décadas depois, ainda no mesmo século, tendo sido, então, o seu principal obreiro o Padre Bento Menni, já canonizado, a quem são atribuídos actos de verdadeiro heroísmo.
Foi ele que, em 1893, fundou a Casa de Saúde do Telhal, tendo sofrido fortes perseguições e sido alvo de violentas calúnias. "Dar coragem aos outros é um meio de criar coragem em si mesmo". Foi o que fez o Padre Menni ao longo deste período difícil. á que os doentes mentais eram pessoas com fortes carências, Bento Menni, ao comprar a Quinta do Telhal, propôs-se fundar, para eles, uma Casa de Saúde. Pretendia, também, criar o Noviciado da Ordem Hospitaleira para jovens portugueses.
A escritura da propriedade, situada a cerca de vinte cinco quilómetros de Lisboa, foi assinada no dia 29 de Junho de 1893, tendo esta sido adquirida à família Van Zeller, que, ao saber dos fins a que se destinava, facilitou significativamente o pagamento inicialmente proposto.
O desenvolvimento do Telhal foi lento e desgastante.
Muitos Irmãos saíram a pedir esmola para assegurarem a sua manutenção, devido à escassez dos recursos, então, existentes. Os doentes começaram a ser assistidos gratuitamente. Só mais tarde foram admitidos alguns pensionistas, tendo a comparticipação destes permitido prestar maior e melhor ajuda.
Durante longos anos, a Comunidade dos Irmãos do Telhal viveu de pão, legumes, ovos, leite e fruta da quinta. Para economizar, era proibido beber vinho e raramente se comia carne.
Aquando da implantação da República, o Telhal, tal como as outras casas religiosas, sofreu mais um forte abalo. No entanto, a prudente actuação dos Irmãos, nomeadamente do Irmão fundador, a visita do Dr. Afonso Costa, Ministro da Justiça, que, ao encontrar internado e fortemente perturbado, um ex-colega da Universidade, se impressionou fortemente, mudando a sua atuação perante a Ordem, contribuíram para que a atividade dos Irmãos pudesse continuar a ser desenvolvida, apesar dos condicionalismos ainda impostos.
Entretanto, o Governo que tantos problemas criara aos Irmãos Hospitaleiros, veio, mais tarde, solicitar os seus serviços, para que prestassem assistência aos militares vindos da guerra de 1914-1918, em que Portugal se viu envolvido, regressados de França mentalmente perturbados, devido aos gases usados pelas forças alemãs. Os Irmãos foram, assim, incorporados no Serviço de Saúde Militar sem terem de sair de casa.
As pensões que o Governo pagava pelos militares internados e algumas economias, permitiram fazer novas construções, nomeadamente o Pavilhão S. José que, para a época, por volta de 1918, tinha instalações modelares, tendo sido considerado o melhor serviço da Europa para pessoas com doença mental.
O número de internados continuava a aumentar e a Casa de Saúde do Telhal foi assumindo o aspeto de uma pequena povoação, com algumas construções, ruas e jardins. Os doentes, já devidamente agrupados de acordo com os seus quadros psicopatológicos, habitavam os edifícios como se vivessem em grandes casas de campo agradáveis e arejadas.
A evolução terapêutica, na Casa de Saúde do Telhal, foi, desde cedo, marcada pela preocupação de reabilitar os doentes para a vida social através do trabalho. Desta forma se esbateram muitos acessos de agitação psicomotora. O trabalho industrial e agrícola foi um dos meios encontrados mais valiosos.
A par dos melhores estabelecimentos estrangeiros similares, foram-se aperfeiçoando métodos reconhecidamente eficazes para a época, de que são exemplo a hidroterapia, a diatermia, a organoterapia, a seroterapia e outros. Também a malarioterapia e a eletroconvulsivoterapia foram quase vanguardisticamente usados na Casa de Saúde do Telhal. A terapêutica convulsionante foi aqui iniciada, pelo Professor Diogo Furtado, em 1936. Ainda nos anos 30, o Professor Egas Moniz, acompanhado pelo Dr. Almeida Lima, vinha, com frequência, efetuar lobotomias aos doentes internados.
Mas, o Telhal não foi sempre e só uma instituição psiquiátrica. Teve clínica cirúrgica com 20 camas, construída entre 1953 e 1954, e Escola de Enfermagem, criada em 1936, essencialmente para a formação dos Irmãos. Estas áreas de atuação, pelo prestígio que tiveram, também contribuíram para o notabilizar.