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  • É um orgulho e é indiscritível sentir que faço parte desta missão

    20 of November of 2024

    Com uma carreira impressionante que passa por multinacionais como a Unilever e a Bel, a Diretora Geral do Instituto S. João de Deus, Cláudia Sá, abraça esta nova missão com paixão, focando-se na melhoria contínua e na sustentabilidade financeira e humana.

     

    Como está a correr a sua integração no Instituto?

    Está a correr muito bem. Estou mesmo a adorar. Acho que a missão do Instituto S. João de Deus (ISJD) é extraordinária. Não conhecia o Santo e agora penso como é que era possível não o conhecer! Além disso, não tinha noção de todo o trabalho que se faz nos centros e das pessoas que nós ajudamos. Sinceramente, é um orgulho e é indescritível sentir que faço parte desta missão. Tenho visto os colaboradores super comprometidos, desde os auxiliares, aos enfermeiros, aos técnicos e coordenadores; o nível de compromisso é muito elevado, sinceramente. Há muita coisa a resolver, mas eu gosto de desafios em especial os desafios difíceis.

     

    Quais são os maiores desafios que prevê enfrentar?

    O primeiro desafio que eu encontrei tem a ver com o cansaço dos colaboradores. É um desafio apaixonante porque é uma das coisas que mais gosto de trabalhar. É preciso estabilizar as equipas de maneira que os colaboradores tenham um pouco mais de equilíbrio, consigam gerir melhor a sua energia e o serviço hospitaleiro aos utentes. Por um lado, temos as equipas com poucas pessoas, e por outro, temos mais utentes e com crescente complexidade. Os colaboradores estão muito cansados. E acho que esse é o principal desafio. Para resolver isso, precisamos definir a quantidade de pessoas que necessitamos para garantir a qualidade assistencial pretendida, com os salários mais justos possíveis. O segundo desafio é exatamente a sustentabilidade financeira, com mais receitas e mais financiamento. Nesta área temos de evoluir em tópicos como a inovação relevante, a relação com os parceiros, a negociação das receitas e a comunicação externa para valorizarmos o nosso ‘fazer bem, o bem’.

    Há ainda um terceiro desafio que me preocupou bastante, que são as nossas infraestruturas. Temos casas e equipamentos gigantescos, que precisam de manutenção, de refrescar áreas hospitaleiras e obra inovadora. Ao longo dos anos, fomos esticando, fazendo o nosso melhor para equilibrar entre pessoas, infraestruturas e qualidade do serviço com o pouco que recebemos. A área da manutenção teve de ser deixada para trás frequentemente.

     

    Pode partilhar a sua experiência sobre a importância da gestão de Colaboradores nas organizações?

    As pessoas são importantíssimas. As empresas têm descoberto isso ao longo dos anos e muitas têm trabalhado profundamente a área da mobilização dos colaboradores. Para além de uma remuneração justa, é importante dedicar tempo a conhecer as necessidades concretas dos colaboradores. Uma conversa atenta, alguma flexibilidade no tempo, particularmente para acompanhamento aos filhos, investir no acolhimento dos colaboradores, investir na sua saúde, incluindo a saúde mental e prevenção de doenças. Só essa escuta e o esforço de resolver questões concretas para um maior equilíbrio e humanismo, já ajuda muito na mobilização dos colaboradores. Está comprovado cientificamente que colaboradores mobilizados entregam entre 20/30% mais!

     

    Qual a importância da comunicação no ISJD?

    A comunicação com os principais parceiros e stakeholders é fundamental. Tanto a comunicação interna como a comunicação externa, não só nas redes sociais, mas também diretamente com o governo, com outras instituições e parceiros. Nós, no ISJD, temos muito para mostrar: temos um grande impacto na sociedade, cuidamos de muitas pessoas, fazemo-lo de uma maneira extraordinária, com enorme carinho, hospitalidade e também com muita base científica com equipas clínicas multidisciplinares, na reabilitação, com imensas ocupações na arte, nos jardins, etc., e poucas pessoas sabem desta maravilha que fazemos aqui. A comunicação tem de ser feita para que nos valorizem e assim facilitar um maior investimento do governo e outros parceiros e, gerar mais confiança em nós ao longo do tempo.

    Como foi o processo de transição para a sua nova posição no ISJD?

    A transição começou com uma mudança profunda motivada pela necessidade da minha família de regressar a Portugal e a sensação de que era hora de mudar completamente de direção. Sentia como se Jesus me tivesse dito que deveria lançar as minhas redes para outro lado. Decidi então aplicar o melhor que aprendi ao longo de três décadas numa empresa de consultoria focada em crescimento sustentável e impacto social, integrando muitos dos princípios que tinha defendido nas multinacionais anteriores. Dois anos depois, surgiu a oportunidade no ISJD, que rapidamente encantou o meu coração. Quando fui convidada pelos Irmãos de S. João de Deus, tive conversas profundas com a minha família sobre os objetivos e a missão do Instituto e os meus filhos disseram-me ‘É mesmo a tua vocação’! Discerni que estava numa nova fase da vida, motivada pelo desejo de contribuir e devolver à comunidade. A minha nova função envolve ajudar na gestão e governança de forma a construirmos juntos, em colaboração, aprendendo com os erros e os desafios, mas sempre focados num propósito claro definido há 500 anos por S. João de Deus

    Pode partilhar algum projeto inovador que planeia implementar no Instituto, algo que considere particularmente impactante?

    As melhores práticas de um centro devem ser partilhadas com os outros, para que também possam avançar. De forma estruturada, vamos escolher áreas em que vamos trabalhar em conjunto, completamente transversais a todos os centros. Estas áreas estarão organizadas em grupos de trabalho, uma abordagem que testei ao longo dos anos. Os diretores atuam como mentores, aos pares com perspetivas diferentes, para proporcionar uma mentoria complementar ao projeto. O líder do projeto não será um diretor, o que permite descentralizar e dar espaço às pessoas que estão no terreno para trazer possíveis soluções. Estes projetos não devem durar mais de seis meses, sendo o ideal entre três e quatro. Este é um modelo inovador para o Instituto hoje, mas baseia-se na minha longa experiência com equipas que trabalham nos assuntos prioritários.

    O que nunca poderá mudar?

    Nunca poderá mudar o propósito do ISJD: o estar sempre à procura do que os mais pobres e vulneráveis da nossa sociedade precisam, e de que novas formas podemos responder. A conjugação dos colaboradores leigos e dos Irmãos e acompanhamento próximo a todas as transformações necessárias, sem perder o carisma de Hospitalidade e Espiritualidade de São João de Deus e os valores da Qualidade, Responsabilidade e Respeito.

     

    Gostava de deixar alguma mensagem aos Colaboradores?

    Sim, gostava de deixar uma mensagem: podem contar comigo. Não estou aqui de ânimo leve, sei que há dificuldades e não me vou assustar. Portanto, vou ser resiliente face a essas dificuldades. Tenho sempre a porta aberta, o telefone à escuta e o meu e-mail também disponível. Estão à vontade para me enviar uma mensagem. Vou trabalhar muito proximamente com as equipas, diretores e também com os Irmãos para que realmente haja um alinhamento muito forte.

    Tenham esperança, calma e serenidade. ‘São João de Deus’ existe há mais de 500 anos e continuará a existir por muitos mais.

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